segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces

Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: “vem por aqui!”

Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: “vem por aqui!”?
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou…

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!"
(Cântico Negro - José Régio )

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